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orlando

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Piáquitha Pubis Hora.

Pirayssocca Ygnorata,

Pseudo Cadeya.

Arataca!

Sernambetibas Carnalis '?

Araraçu,

Mandioca!

Kananga, Bananga, Bananga ...

Goyaba. Iapvi Viete.

Guiracoco,

Tucano arara.

Cupuaçucar,

Kananga.

 

As aquarelas de Mollica me levam à 1554. Vivia no forte de Bertioga um alemão chamado Hans (5ic). Era especi­alista em acertar Tupinanbás a distância com arcabuz. Poc, não, perdia uma. Certa manhã Hans foi colher cajus no mato (eles chamavam caju de pêra da América"). Um grupo de Tupinambás o agarrou. Toca pra aldeia. Hans chorava e rezava, antevendo o seu destino. Ao chegar, foi apresentado às mulheres e teve de gritar (ou seria morto ali mesmo):

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- Aju ne xê peê remiurama! Em língua portuguesa:

 

- estou chegando eu, a comida de vocês!

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Dias depois apareceu um francês, amigo dos Tupinanbás. Estou salvo pensou Hans (também conhecido como Hans Staden). Mas o sujeito apenas desejou bom apetite aos amigos. O alemão se desesperou. Arrancou do ombro um curativo que vinha fazendo: por que havia de curar uma carne que ia ser comida? Começou a chorar. Os Tupinambás disseram: - Está chorando. É um português legítimo.

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Essa gente que tratou tão bem aquele europeu acabou toda ... Toda'? Ficaram os nomes: Pirayssocca, Sernambetiba, Iguatemi, Cupuaçu, Bananga!

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Só os eruditos sabem o siginficado de boipeba, cumbica, araraçu ... Os  nomes descolaram dos significados, aderiram plenamente às coisas. O que fez então Mollica, agora que toda aquela gente desapareceu com sua língua? Tirou os nomes das coisas, não para lhes restabelecer de novo o conteúdo, mas para fazê-los flutuar. O tupi-guarani nas aquarelas do nosso desenhista-pintor é completamente irreal. É policarpoquaresmal. Mesmo que Mollica tenha copiado dos desenhos de Franz Post, de Thomas Ender, de Ekhout, mesmo que, de vez em quando, os tenha fundido com palavras latinas (também irreais), eles não correspondem às  imagens. Pelo menos logicamente. Se toda arte é um fingimento do real, porque não descolar também as palavras das imagens - corno faz Mollicassu nessa série de aquarelas do Brasilmirim?

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Conheço muitas definições de arte, todas insatisfatórias. Esta de Pedro de Jesus dos Santos, o baiano (de Cachoeira) autor de um sem-número de exus de barro - até em lojas de Moscou dizem que já foi vendido:

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- Arte é uma invenção que ninguém inventou antes.

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Último esclarecimento. A exposição de Mollica é poliearpoquaresmal porque esse sujeito foi internado ao requerer ao congresso que decretasse o tupi-guarani língua nacional.

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Aju ne xê peê remiurama!

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Guiracoco.

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Rio, outubro de 1998.

Joel Rufino

Sobre a exposição Aquarelas do Brasil

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